Como um “espaço secreto” pode te ajudar a equilibrar o uso de mídias sociais

Houve um tempo em que víamos o mundo somente com os nossos olhos. Hoje em dia, o examinamos através de pequenos quadros, perfeitamente escolhidos, onde olhamos, rolamos a tela, admiramos e damos duplos cliques. Então, se você não postar no seu Instagram, aquele momento realmente aconteceu? Se você não conseguir muitos cliques ao lado do seu nome, você não é um influenciador? Em nossa sociedade formada por blogueiros de viagem, mães influenciadoras, onde qualquer um e todos podem ser uma estrela (enquanto o algoritmo disser que você é), estamos sendo #autênticos de verdade?

Hoje de manhã, eu estava deitada na cama, sozinha, somente com meus pensamentos e minha barriga de grávida. Eu vi o subir e o descer da minha barriga, bem do lado esquerdo, onde a cabeça do meu bebê estava aconchegada. Pensei nos sonhos que tenho para o meu filho. Pensei sobre quem ele será e o tipo de infância que quero dar para ele.

Posso ser honesta? Não pensei em fotos perfeitas postadas no Instagram. Não vi piqueniques e todos com roupas combinando ou um feed cheio de postagens perfeitas.

Tenho quase certeza que esse menino vai ser teimoso como meu esposo e cheio de opinião como eu. Então, vejo bagunças e chiliques, mas também momentos de carinho e diversão. Nos vejo lendo juntos, correndo juntos, tirando uma soneca juntos. Vejo desenhos colados na geladeira que são mais rabiscos imaginários do que insta-dignas, e noites que passaremos em Nárnia ou na Terra do Nunca, não na terra-gram.

A cara das novas estrelas do Instagram

Pela primeira vez na história, os modelos do Instagram desenharam um novo modelo de superstar. Posso te mostrar uma? Vamos chama-la de Olivia. Ela sempre está no Instagram de sua mãe, mesmo ela tendo uma página própria. Aos 3 anos de idade, ela tem mais fãs do que o número de pessoas que ela jamais viu com seus próprios olhos. Ela já é famosa antes de saber soletrar essa palavra. E ela não está sozinha. Milhares de crianças como ela crescem aprendendo a como tirar fotos, sabendo com precisão onde colocar as mãos e como mover a cabeça para que a mamãe possa tirar uma foto melhor.

Muitas dessas crianças já têm uma conta no Instagram mesmo antes de saber o que uma “conta” e muito antes de ter a sua própria privacidade e o que eles querem ou não deixar público sobre suas vidas. Muitos deles sabem como criar uma “autêntica” foto perfeita do momento, sendo criados para a fama do momento que começaram a respirar e ganharam a atenção de todos os seguidores de suas mães.

É realmente tão ruim, tão preocupante, que nossas crianças aparecem de forma tão ousada nas mídias sociais? No fim das contas, que perigo pode haver em fotos postadas de uma criança de 5 anos? Por que não investir tempo em abrir um espaço onde mães como eu, possam compartilhar as partes mais bonitas de suas vidas e seus filhos?

Essa situação pode ser mais complexa do que a pergunta implica. De maneira simples, não há nada de errado em tirar fotos. Nada preocupante em compartilhar um post. Conexões reais podem ser construídas através do Instagram. Através desse mediador, construí amizades online com outras mães e empreendedoras que compartilham da minha visão – relacionamentos que nunca teriam acontecido se não fosse pelo Instagram. Esse pequeno aplicativo enriqueceu a minha vida e me deu um acesso maior a pessoas ao redor do mundo que me importo, que se importam comigo, e que não querem que algo simples como a distância, os impeça de ver o meu filho crescer.

Mas ainda devemos considerar as coisas que postamos. Devemos considerar a foto de quem estamos postando, quando e especialmente, por que estamos postando. Esse post é para os nossos filhos ou para a nossa família? É parte do registro de nossas famílias, postado de maneira pensada em um momento que não corrompe os ritmos reais de nossas vidas? Ou é para nós? É um momento que esperamos que nosso feed possa competir com o feed de outras famílias perfeitas que seguimos? Estamos criando o momento perfeito de nossas vidas para provar algo, se sim, para quem?

Como a cultura da comparação pode impactar a sua família

É perigoso mergulhar na cultura da comparação quando temos filhos. Pesquisas tem mostrado ao longo dos anos que, ambos os pais desenvolvem problemas quando entram na cultura da comparação que podem impactar negativamente a saúde mental materna e o relacionamento amoroso entre pais e mãe. Ambos apresentam consequências no tipo de criação que surge entre pais e filhos. A cultura da comparação não para por aí, entretanto – também pode impactar negativamente a criança ou adolescente e pode aumentar os sentimentos de inveja e ciúmes entre amigos.

No passado, os problemas estavam principalmente entre a comparação dos pais entre dois de seus filhos, com isso criava-se oportunidade de inveja e inimizade entre irmãos, porém esse mundo novo cheio de milhões e postagens, abriram nova áreas para que crianças e jovens se comparem não somente com aqueles que amam, mas com pessoas que eles nem mesmo conhecem. As opiniões de estranhos importam para crianças que entendem o que o é um “like”.

Para mim, não é novidade que meu telefone é viciante, que eu uso para relaxar, para me distrair quando estou entediada e quero passar o tempo. A Psicoterapeuta Kristen Howerton sugere que pode ser um problema quando nossas ações dão aos outros a percepção de que valorizamos nossas distrações mais do que nossos relacionamentos. Algumas pessoas realmente valorizam suas vidas sociais online acima das pessoas em suas vidas, mas o perigo da distração é que entra no caminho do que amamos mais e nos distrai tempo o bastante para comunicar essa mensagem.

Então, a pergunta é: Que mensagem estamos dando aos nossos filhos?

Estou dizendo isso porque quero que meu filho saiba como brincar sem ter que posar para uma foto. Quero que ele cresça pedindo biscoitos e não fama. Quero que ele tenha a liberdade de usar o que ele quer, mesmo que não esteja na moda, ou seja orgânico, ou siga as cores do meu feed. Como adultos, os jogos do Insta podem nos distrair de lavar a roupa, ou das tarefas, e dos exercícios diários que ainda queremos nos sentir motivados a fazer. Mas também está nos distraindo de nossos filhos? Estamos dando aos nossos filhos o presente de nossa presença ou nossas predefinições?

Para as crianças, o uso do Instagram pode distraí-los de jogos imaginários. É muito bom e divertido construir um forte na sala de estar, mas logo que você tira aquela linda foto, seu filho já vem te perguntar se as pessoas curtiram o que ele fez? Ou a foto se torna uma doce memória que vocês podem se recordar daqui a alguns anos?

Uma ferramenta subutilizada que pode nos ajudar a manter a perspectiva

Não estou dizendo que existe uma resposta perfeita que nos permitirá compartilhar nossas doces memórias sem nunca ter impacto sobre nossos filhos. Mas acredito, que existe uma ferramenta subutilizada que pode nos ajudar a manter essa perspectiva.

Essa ferramenta nasceu de uma memória que tenho da minha infância. Naquela época, meu quarto ficava no andar de baixo, um pequeno cômodo com paredes cor de pêssego e um pequeno guarda-roupa onde eu fingia viajar para Nárnia, igual acontecia nos livros. No entanto, minha parte favorita do quarto era um espaço secreto acima de minhas prateleiras.

Descobri um dia por acidente que o topo da minha última prateleira não era colado. Se eu puxasse eu conseguia tirar e havia um compartimento secreto onde eu podia colocar qualquer coisa que eu quisesse. Era muito legal ter esse espaço. Aos 9 anos de idade, eu não tinha nada de valor para esconder em meu compartimento secreto além de doces e anotações sobre meninos, mas o fato de aquele espaço existir, e que eu tinha um espaço secreto que ninguém mais sabia, era muito legal e especial para mim.

Talvez essa é a parte da resposta para essa pergunta tão complicada. Talvez possamos encontrar equilíbrio ao criar um espaço secreto e especial entre nós e nossos filhos. Podemos criar grandes espaços em nosso dia que a internet nunca verá, que nossos seguidores nunca conhecerão.

Podemos descartar a necessidade de compartilhar cada conquista deles, reduzindo assim, a necessidade de sempre compartilhar e nos dando o espaço mental para celebrar as conquistas de nossos filhos sem buscar por aplausos e a aprovação pública de outros. Podemos achar esses momentos ainda mais doces do que ver ‘likes’ e comentários.

Nossos filhos nos observam. Eles interpretam o que é importante para nós pelo que consumimos, e essas coisas se tornam importantes para eles também. Se sempre estamos consumindo milhares de posts, comentários e ‘likes’, não devemos ficar surpresos quando eles buscarem pelas mesmas coisas.

No entanto, se criarmos um espaço secreto longe da internet, nos tornamos livres para comunicar algo bem diferente. Comunicamos que o que mais queremos para preencher as nossas vidas são nossos filhos. Que eles são suficientes exatamente como são. Que eles são suficientemente especiais para nos manter presentes.

Comunicamos que eles são o centro do nosso mundo e que não temos a necessidade de colocar uma hashtag na frente da palavra #autêntico, para que assim as pessoas saibam que estamos sendo verdadeiros, porque nossos filhos já sabem que somos.

Fonte: LDSLiving

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