A história milagrosa do primeiro missionário paquistanês
Muitas vezes na Igreja de Jesus Cristo, a obra missionária pode ter uma conotação negativa, sendo considerada como uma pesada obrigação ao invés de uma bênção ou uma oportunidade de servir.
Talvez seja porque não sabemos por onde começar. Nós podemos não saber como compartilhar o evangelho com aqueles ao nosso redor e, portanto, pensamos que nunca vamos conseguir. Talvez tenhamos recebidos muitos “não” ou já tenhamos tentado falar sobre o evangelho com todos os que conhecemos. E é possível que nós, através de nossos olhos mortais, pensemos que não podemos fazer a diferença, que não podemos ser bons missionários, ou que nossos esforços vão passar despercebidos.
Embora às vezes possa ser difícil ter uma perspectiva eterna das coisas, é importante lembrar que o Senhor “é capaz de fazer Sua própria obra” (2 Néfi 27:20).
Isso foi o que aconteceu na vida do irmão Razzaq Gill, o primeiro missionário da Igreja e um dos primeiros conversos do Paquistão. O irmão Gill tem se esforçado para ser um membro missionário durante toda a sua vida, desde que aprendeu sobre o evangelho restaurado.
Uma surpresa amigável
O irmão Gill nasceu e foi criado em Sialkot, Paquistão, onde cresceu com seis irmãos e uma irmã. Sua família era muito católica. À medida que Gill ficava mais velho, ele decidiu estudar para se tornar um padre. Enquanto estudava no Seminário de Santa Maria, conheceu um homem chamado Steven Anjum. Estes dois jovens se tornaram grandes amigos durante os anos seguintes, enquanto passavam tempo juntos em programas para jovens da igreja católica e estudavam sobre o catolicismo.
O curso para Gill não foi o que ele esperava, então ele deixou tudo de lado após quatro anos e se tornou um chef em um hotel 5 estrelas. Um dia, depois de assistir a uma conferência cristã juntos, Gill e Anjum decidiram comer alguma coisa. Anjum não sabia que o Gill era chef num hotel chique, por isso Gill decidiu levar o seu querido amigo para o hotel onde trabalhava. Depois de tentar convencer o amigo que eles poderiam se dar ao luxo de comer ali, eles se sentaram em uma mesa, pediram duas águas e Gill deixou seu amigo à mesa enquanto ele se trocava com suas roupas de chef, ele preparou uma refeição, e surpreendeu Anjum com a sua nova profissão enquanto comiam juntos.
Após a refeição, Anjum também tinha uma surpresa para seu amigo, que acabaria mudando sua vida para sempre.
“Ele (Steven Anjum) disse: ‘ok, você me surpreendeu. Então vou te surpreender também.’ Eu disse “Ok, o que você vai fazer?” Ele abriu sua mochila e me deu um Livro de Mórmon”, lembra Gill. “Eu estava lendo e perguntei a Steven se ele conhecia alguém no [Paquistão] para falar sobre isso. E passados alguns meses, encontrámos uma pessoa, o irmão Bob Simmons. Sua família vivia em Islamabad e trabalhava na Embaixada Americana. Fomos lá juntos e nos vimos pela primeira vez. Eles ficaram surpresos e começaram a me ensinar o evangelho de Jesus Cristo.”
Gill pouco sabia sobre a história por trás do Livro de Mórmon que foi presenteado à ele.
A jornada do Livro de Mórmon
Alguns anos antes, em Provo, Utah, um rapaz chamado Sean Dixon estava no último ano do ensino médio na Timpview High School, em 1988. Durante a Semana Missionária, os jovens do seminário em Timpview compraram cópias simples do Livro de Mórmon e escreveram cada um seu testemunho na contra capa e seu endereço. Os livros foram então enviados para a sede da Igreja em Salt Lake City e enviados à missionários que estavam servindo no mundo todo para serem compartilhados com aqueles que estavam sendo ensinados.
De alguma forma, a cópia de Dixon do Livro de Mórmon acabou nas mãos de um ministro cristão na Inglaterra. Pouco depois que o livro chegou, um homem do Paquistão, que estava estudando para se tornar pastor, participou de um treinamento neste ministério na Inglaterra e viu o Livro Mórmon com o testemunho de Dixon pela primeira vez. Parte do treinamento que este paquistanês recebeu era “avisar o mundo sobre os males de [O Livro de Mórmon].”
Após o treinamento, o homem levou a cópia do Livro de Mórmon de Dixon para Faisalabad, Paquistão, e começou sua própria igreja, a Igreja da Filadélfia. Foi aqui que o Steven Anjum apareceu. Nas próprias palavras de Anjum, ele compartilha como ele entrou em contato pela primeira vez com o Livro de Mórmon:
“[O] irmão mais novo do pastor era meu melhor amigo naquela época, e um dia ele compartilhou comigo que seu irmão mais velho trouxe uma Bíblia nojenta de uma igreja horrível. Uma noite, eu estava com meu amigo na igreja do pastor quando o pastor falou sobre a Igreja Mórmon e até mostrou às pessoas a capa do livro. Depois da reunião da Igreja, perguntei ao Pastor: “você leu este livro? E como sabe que (o Livro de Mórmon) é um livro horrível? Mais tarde, perguntei ao meu amigo se me emprestava o livro para estudar. No dia seguinte, o meu amigo me trouxe o livro. Quando vi o livro e o seu título “Outro Testamento de Jesus Cristo”, ouvi o sussurro do Espírito Santo no meu coração me dizendo que este é um livro muito especial e me convidando a lê-lo.
Nos próximos dois meses, eu estava tentando encontrar o propósito deste livro e quem o escreveu. Eu tinha muitas perguntas em minha mente, mas não havia ninguém que pudesse responder às minhas perguntas exceto o Espírito Santo. Eu comecei a pesquisa com uma oração e um dia, eu estava orando, e de uma vez eu entendi o propósito do livro, e foi-me revelado que este livro era verdadeiro. Descobri que ele é uma poderosa testemunha de Jesus Cristo… Depois de alguns meses, eu conheci o pastor e perguntei-lhe onde Mórmon morava e falei com ele sobre a revelação de Jesus Cristo e contei-lhe que este livro fala sobre Jesus Cristo. O pastor não gostou do meu interesse naquele livro e me pediu para devolvê-lo. Antes de devolver o livro, anotei o endereço e o nome da pessoa que estavam na contra capa. O nome era Sean Dixon e ele era de Utah.”
Anjum então procurou o irmão Dixon em Utah em 1989 para obter mais cópias do Livro de Mórmon. Dixon então enviou a Anjum uma caixa cheia de cópias do Livro de Mórmon para que ele pudesse compartilhá-las com seus amigos no Paquistão. Ele aproveitou a oportunidade quando se encontrou com seu querido amigo Gill em 1990.
25 batismos
Quando o Departamento Missionário da Igreja soube da carta de Anjum ao irmão Dixon, eles contactaram a Presidência da Área daquela parte do mundo. A Presidência da Área enviou uma carta a Anjum com o endereço de Simmons.
Gill recebeu um Livro de Mórmon de seu querido amigo e isto foi apenas o começo. Depois de conhecer a família Simmons, Gill e Anjum saíram e começaram seu próprio trabalho missionário, reunindo seus amigos e familiares e levando-os para a casa da família Simmons para reuniões da Igreja. Embora houvesse restrições contra ensinar muçulmanos devido a preocupações de segurança, eles falaram com tantos amigos cristãos quanto puderam, ajudando a Igreja a crescer no Paquistão.
Gill e Anjum foram capazes de trazer 30 pessoas interessadas para a casa de Simmons em Islamabad naquele ano. Gill foi ensinado por cerca de três meses antes de ser batizado e se tornar um membro da Igreja. Ele, juntamente com outros, queria ser batizado mais cedo, mas o irmão Simmons precisava receber permissão da Igreja para realizar os batismos. Elder Merlin R. Libbert, o Presidente da Área em Hong Kong na época, deu permissão para Gill ser batizado na primavera de 1991. Razzaq foi um dos primeiros 25 convertidos que foram batizados no Paquistão, todos os 25 batismos aconteceram no Rio Jhelum.
No entanto, se tornar membro da Igreja nem sempre foi fácil para os conversos.
“Às vezes tivemos momentos difíceis, sabe?” Gill admitiu. “Eles dizem:’ você muda de religião e até as famílias ficam chateadas. A minha família ficou sem falar comigo por um ano [depois do meu batismo]. Disse que ainda somos cristãos, e eles ficaram tranquilos.”
Trabalho missionário em todo o mundo
Depois que Gill foi batizado, ele e Robert Simmons escreveram uma carta ao então Presidente Ezra Taft Benson para ter a área do Paquistão aberta para o trabalho missionário. A proposta foi inicialmente recusada devido à complicação do proselitismo cristão em um país muçulmano. Em junho de 1992, vários apóstolos vieram dedicar a terra para o trabalho missionário, incluindo os então Elderes Neal A. Maxwell e Russell M. Nelson. A caminho do Paquistão, o Presidente Benson ligou para eles, avisando-os que ainda não era a hora certa para a terra ser dedicada. Os apóstolos ainda vieram, encontrando-se com os santos e deixando-lhes uma bênção.
Isso não impediu Gill de compartilhar o evangelho. Ele foi o primeiro missionário do Paquistão a servir fora de seu país natal e foi o único a servir uma missão dos primeiros 25 convertidos que foram batizados em 1991. Gill serviu sua missão na Missão Inglaterra Birmingham de 1993 a 1995.
Enquanto isso, cinco ramos foram abertos em Islamabad, Sialkot, Faisalabad, Lahore e Kirachi, e grupos de membros se reuniam em Taxila e Gujranwala. A terra foi aberta e dedicada ao trabalho missionário pelo então Élder Dallin H. Oaks em 2007, onde a Igreja ainda continua a crescer em um ritmo constante.
“A Igreja no Paquistão está crescendo muito bem”, disse Gill. “Eu fui para lá em dezembro [2018] e fui para alas diferentes para visitar e apenas ver. E eu estava tão feliz por ver tudo isso, sabe? No passado, o ramo inteiro de Sialkot poderia se reunir na casa de apenas um irmão. Mas agora temos uma casa grande que alugamos e temos alguns missionários. Os membros vão e trazem as pessoas e os missionários ensinam [as pessoas interessadas] nesta casa.”
Até hoje, Gill ainda carrega um livro de Mórmon com ele para onde quer que vá. Ele ensina o evangelho nas mídias sociais com missionários de todo o mundo em diferentes idiomas, como urdu, hindi, punjabi, inglês e italiano. Se ele não fala a língua da pessoa, ele sempre indica alguém aos missionários para que aqueles que buscam a verdade tenham os recursos que precisam.
“Estou ensinando em todos os lugares que precisam de mim”, disse Gill. “Eu não sou um missionário de tempo integral, mas ainda sou um missionário. Ensino a cada momento que posso, todos os dias… Eu amo fazer trabalho missionário. Sei quando ensinamos o evangelho, Deus nos abençoa e também abençoa à nossa família… Isto é uma bênção porque tenho uma boa esposa, bons filhos. Esta é a benção de Deus, sabe? Tenho uma família feliz.”
Foto: Cortesia Razzaq Gill
Gill serviu na presidência do ramo, na presidência do quórum de élderes, na presidência da escola dominical, como líder da missão da ala, e agora é um missionário em sua estaca, em Friedrichsdorf, Alemanha, onde ele mora com sua família em Wiesbaden. Sua família é composta por sua esposa, duas meninas e um menino.
Fazer a nossa parte
Uma das principais lições aprendidas com vida do irmão Gill é que Deus pode e vai nos usar para fazer grandes coisas, até mesmo milagres. Compartilhar o evangelho pode ser cansativo e difícil. No entanto, os nossos esforços não passarão despercebidos. Atos simples (como escrever seu testemunho na contra capa de um Livro de Mórmon e deixá-lo por aí) pode literalmente mudar milhares de vidas para sempre. Então, da próxima vez que você sentir que seus esforços não são suficientes, lembre-se que Deus é um Deus de milagres e fará as coisas acontecerem se você tentar.
Outra lição que aprendemos com a história de Gill é a de que não importa nossas circunstâncias ou que nível de conhecimento temos do evangelho, podemos fazer o que pudermos para compartilhá-lo. Podemos ser entusiasmados sobre o evangelho. Podemos falar com as pessoas e tentar servir onde quer que vivamos. Deus está trabalhando para abrir os corações daqueles que estão ao nosso redor. Veja o bem que veio de um amigo compartilhando o Livro de Mórmon no Paquistão.
Por causa desses simples atos de fé de Anjum, Dixon, Gill e Simmons, juntamente com inúmeros outros milagres trazidos por outros membros fiéis naquela parte do mundo, mais de 6.000 membros da Igreja agora vivem no Paquistão em 13 ramos e três distritos. Eu espero que todos nós possamos encontrar o tempo e o esforço para pregar o evangelho para que o Senhor possa fazer grandes coisas através de nós.
“Acho que todos os membros devem ser missionários”, disse Gill. “Se o trabalho acontecer como um conjunto dos missionários e dos membros, será bom. Precisamos desta obra em todos os lugares, não só na Alemanha, no Paquistão ou na Índia. Até [em Utah]. Nem todos são membros. Eles também precisam ter o evangelho de Jesus Cristo. Se trabalharem juntos, talvez consigam fazer isto, sabe? Temos oportunidades.”
Fonte: LDS Living
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