5 sugestões para viver fiel no evangelho mesmo com dúvidas

Há algumas semanas, um irmão foi ao púlpito na minha ala, no Arkansas, e humildemente compartilhou o seu testemunho. Ele falou sobre sua fé, suas lutas contra as dúvidas, e sua esperança de continuar progredindo. Um sentimento de amor e gratidão surgiu na congregação porque muitos de nós tínhamos passado por experiências semelhantes.

Muitos de nós nos preocupamos com a dúvida—o que é, o que causa, e o que significa em relação à nossa fidelidade como membros da Igreja. Mas talvez o fato de nos preocuparmos o suficiente com a nossa fé para nos fazer esses tipos de perguntas, seja um indício de que somos mais fortes do que pensamos. Em todo o caso, se sentimos que temos dúvidas, mas que também estamos tentando ser fiéis no evangelho, não estamos sozinhos.

Como podemos viver com a dúvida e apoiar os outros enquanto vivem a mesma situação? A jornada de cada pessoa é diferente, mas aqui estão algumas ideias.

Respeite os diferentes significados da dúvida

A palavra dúvida significa coisas diferentes para cada pessoa. Para alguns indivíduos, a dúvida tem conotações negativas e o sentimento de dúvida é acompanhado pela solidão, confusão ou medo. Para outros, ter dúvidas significa simplesmente ter perguntas, não ter certeza de algo ou explorar novas ideias. Talvez seria bom se tivéssemos tempo para reconhecer as nossas próprias interpretações da palavra dúvida. Da mesma forma, podemos permitir outras ideias em meio às definições de outras pessoas.

Aqui está um exemplo interessante: Em alguns idiomas, os missionários perguntam às pessoas que estão ensinando: “você tem alguma dúvida?” como uma forma de dizer “você tem alguma pergunta ou preocupação?” Não estão perguntando se as pessoas acreditam em tudo o que disseram. Pelo contrário, perguntam se há alguma coisa que precisem de esclarecer.

Estar ciente de que as pessoas sentem e interpretam a dúvida de diferentes maneiras pode nos ajudar a ser mais eficazes quando conversamos e isso refletirá em nosso tom de voz, reações e nossa disposição para ouvir.

Desenvolver uma atitude de confiança em Deus

Se sentimos ou não que a dúvida é uma escolha, cultivar uma atitude de confiança em Deus é algo que precisamos considerar. É aqui que a dúvida e a fé se cruzam — na junção de não saber ou não ter certeza e ainda escolher dar o próximo passo na direção de Deus. Este é Pedro se afundando na incerteza, mas também alcançando o Senhor (Mateus 14:28-31). Este é Néfi não entendendo as palavras do Espírito, mas também reconhecendo que Deus ama seus filhos (1 Néfi 11:17). Este é Enoque, sentindo-se incapaz de fazer a obra de Deus, mas ao mesmo tempo “pondo-se nas colinas” e testemunhando “em alta voz” (Moisés 6:31-39).

Uma atitude de confiança em Deus faz a diferença entre uma crise de fé que nos imobiliza e um caminho de fé que nos faz progredir. Confiar em Deus o suficiente para seguir em frente é reconhecer que o “homem não compreende todas as coisas que o Senhor pode compreender.” (Mosias 4:9) e deixar que isso fique bem por agora. Como o estudioso bíblico, Peter Enns escreveu em seu livro The Sin of Certainty,

Quando chegamos ao ponto em que as coisas simplesmente não fazem sentido, quando nosso pensamento sobre Deus e a vida já não se alinham, quando qualquer senso de certeza se esvai, e quando não podemos encontrar nenhuma razão para confiar em Deus, mas ainda o fazemos, é onde o brilho máximo daquilo que dizemos ser a confiança é representado —quando todo o resto é escuridão.

Da mesma forma, lemos nas escrituras: “Buscai-me em cada pensamento; não duvideis, não temais” (D&C 6:36). Podemos desenvolver uma atitude de confiança, fazendo um esforço consciente para buscar a Deus – orar e reconhecê-Lo em nossas vidas, mesmo quando as coisas não parecem fazer sentido. À medida que este ato de buscar a Ele se torna parte de quem somos, podemos descobrir novos níveis de confiança e substituir a dúvida e o medo.

Criar expectativas

Aqui no Arkansas, é comum ouvir amigos e vizinhos falarem sobre “dar graça” às pessoas, ou em outras palavras, ser gentil e compassivo em nossas expectativas sobre os outros.  Em momentos de dúvida, demonstre tenha misericórdia de si mesmo e dos outros. A certeza é um belo objetivo, mas não é um requisito para a fé.

Em um recente devocional na BYU, Jeffrey McClellan se referiu à história bíblica do pai que clamou “Eu creio, Senhor! ajuda a minha incredulidade.” (Marcos 9: 24) e ensinou,

“A fé imperfeita ainda é fé. Por definição, a fé é incompleta, então se você sente falta de clareza e um conhecimento seguro, tudo bem. Isso é fé… A fé é uma escolha para acreditar baseada em um corpo incompleto e em constante mudança de informações. A fé está dizendo: “Ainda que eu esteja sofrendo, ainda que esteja confuso, ainda que não ouça claramente a voz de Deus, ainda escolho acreditar.”

Sheri Dew conta a história de uma amiga que estava questionando sua fé. Irmã Dew perguntou a sua amiga se ela estava “disposta a lutar”, ou na verdade, a embarcar em uma jornada de fé. Elas estudaram juntas e gradualmente a amiga fez algumas descobertas significativas. Anos mais tarde, a amiga disse que a melhor parte da jornada foi a compreensão de que ter perguntas e buscar respostas era uma coisa boa.

Nos rotular (e rotular os outros) como céticos nos torna indiferentes, mas ser alguém que busca respostas, faz de nós pessoas empoderadas e cheias de esperança. O filósofo e escritor Santo dos Últimos Dias, Adam Miller, disse:

Não saber é parte do que significa ser um ser humano, e é parte integrante de ser uma pessoa religiosa… Na medida em que somos obrigados a buscar compreensão, [nos tornaremos] familiarizados com tudo o que não sabemos e aprenderemos a confiar no Senhor por causa disso… Você pode considerar o momento em que não possui conhecimento como um indício de que a sua experiência religiosa falhou, ou pode considerar a falta de conhecimento como um sinal de que você está progredindo espiritualmente.

Se você ou aqueles que você conhece estão entre aqueles que estão questionando e analisando seus testemunhos, isso não precisa ser uma experiência assustadora. Se pudermos ver a nós mesmos e aos outros como pessoas que buscam, então poderemos ter esperança de que “quem busca, acha” (Lucas 11:10) e que o resultado será uma fé mais intencional, mais forte e mais pessoal.

Aprenda a conviver com a incerteza e com a fé

Construir e manter um testemunho sobre qualquer tópico do evangelho pode ser desconfortável durante períodos de questionamento e busca. Embora desejemos que a luta termine rapidamente, precisamos “conviver com o desconforto”, a fim de alcançar completamente novos níveis de compreensão. Da mesma forma, podemos “conviver” com os outros em seu desconforto ouvindo sem julgar e presenciar sua luta sem tentar pará-la.

É natural evitar o desconforto. Esta tendência às vezes é chamada de “vício em harmonia”. Queremos que tudo esteja bem e em paz até ao ponto em que resistimos sentir o contrário, ou tentamos forçar uma resolução rápida. J. Scott Miller explicou isso em seu excelente discurso sobre dúvida, “humilde incerteza”:

Nossa inclinação por certo tipo de conhecimento pode nos cegar para nossas próprias fraquezas espirituais, bem como para as dificuldades dos outros. Olhando para o desconhecido, podemos temer tanto a vulnerabilidade que ignoramos ou até tentarmos esconder nossas fraquezas, restringir o alcance de nossas crenças, e nos distanciar daqueles cujas vidas são complicadas por causa de provações e tribulações… permitimos que o medo bloqueie o nosso progresso.

Conviver com a incerteza é diferente de agarrar-se a dúvidas. Elder Uchtdorf ensinou que “jamais podemos permitir que a dúvida nos aprisione e nos impeça de receber o divino amor [e] a paz.” Na verdade, podemos reconhecer as nossas incertezas e preocupações como o que elas são sem dar tanta atenção a elas.

Quando aprendemos a conviver com o desconforto da incerteza por um tempo— observar, estudar e trabalhar com ela – há uma oportunidade de crescimento. Da mesma forma, deixamos que os outros cresçam quando lhes damos tempo e espaço para se questionarem.

No entanto, se estamos dispostos a conviver com a incerteza, devemos estar dispostos a conviver com a nossa fé também. Podemos manter um forte controle sobre o que sabemos, por menor que seja tal conhecimento. Jeffrey R. Holland ensinou,

Nos momentos de temor ou dúvida ou em tempos difíceis, preservem o que já conquistaram, mesmo que isso seja algo limitado. O tamanho de sua fé ou o nível de seu conhecimento não é o problema — trata-se da integridade que vocês demonstram em relação à fé que vocês têm e a verdade que já conhecem.

Se o mandamento para” não duvidar, mas acreditar”(Mórmon 9:27) se torna esmagador ou completamente impossível, tente perceber algo de suas experiências que o fazem acreditar; por exemplo, “não duvide, mas acredite em ___________ (e preencha o espaço em branco).” Pode ser encorajador escrever o que sabemos, ou o que acreditamos, ou mesmo o que desejamos acreditar (Alma 32:27), e revisá-lo muitas vezes. Ao fazê-lo, podemos permanecer focados na fé, e manter uma base mais forte para administrar nossas dúvidas.

Mude o seu relacionamento com a dúvida, concentrando-se no amor

Finalmente, em questões de fé e dúvida, lembre-se que o amor ganha. O Pai Celestial e Jesus Cristo estendem Seu amor até nós, fornecendo conforto (e às vezes respostas) no devido tempo. Estendemos nosso entendimento em direção aos céus ao confiar Neles. Além disso, o amor de nossos semelhantes pode ser o que nos mantém juntos. Temos que apoiar uns aos outros. A Igreja e o lar precisam ser lugares seguros para falar sobre a nossa fé. Parece óbvio, mas infelizmente, nem sempre há espaço para incertezas sem também ser rotulado como cético. Ao tentarmos nos ver como aqueles que buscam, precisamos ver os outros da mesma forma. “Sê paciente com a imperfeição da tua fé” e com a imperfeição da fé dos outros.

Para muitos daqueles que buscam, o amor faz toda a diferença. O Professor da BYU, George Handley, ensinou,

As dúvidas, às vezes, se beneficiam das respostas, mas na maioria das vezes a dúvida nasce do medo, da ansiedade, do abandono ou da falta de autoconfiança. Por esta razão, a dúvida é melhor quando resolvida, não com conhecimento em si, mas por meio de relacionamentos amorosos e com experiências do amor puro de Deus. Ao ter experiências suficientes com o amor de Deus, você vai perceber algo fundamentalmente bom e verdadeiro sobre a Igreja e o evangelho e algo fundamentalmente bom e verdadeiro sobre você e sua vida… O amor de Deus aumenta a nossa capacidade de suportar contradições, dúvidas, sofrimento e abraçar a vida com todo o nosso coração.

Viver com perguntas, incertezas e até mesmo dúvidas parece ser universal nos dias de hoje. Talvez sempre tenha sido. Mas isso não é necessariamente uma coisa ruim, nem significa falta de fé. Trabalhar com nossos testemunhos—como a maioria dos tipos de trabalho-é desconfortável, exige tempo e nos torna mais humildes. Mas, a vontade de tentar é uma manifestação de fé. Podemos viver com a dúvida e ainda assim sermos fiéis, nos permitindo a busca e nos mantendo fundados no amor. E podemos ajudar outros a fazer o mesmo.

Fonte: LDS Living

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