Por que Helamã 7-8 parece um discurso fúnebre?
“E por causa de meus clamores e lamentos vos haveis reunido e estais admirados; sim, tendes muito de que ficar admirados” Helamã 7:15
O conhecimento
Quando Néfi, o filho de Helamã, retornou de sua missão nas terras do norte, ele estava desencorajado pela “terrível iniquidade” e “grande iniquidade” das pessoas (Helamã 7:4-6). As pessoas haviam se tornado corruptas.
Os justos foram condenados pelos iníquos por serem justos, e os iníquos usaram seu poder financeiro para escapar das punições de seus crimes. Durante o mesmo período, os ladrões de Gandiânton ocupavam as cadeiras dos juízes (Helamã 7:4-5).
Na verdade, a sociedade justa que Néfi conheceu estava morta. Portanto, como John W. Welch propôs, parece que Néfi decidiu realizar um funeral.
Néfi era o sacerdote chefe em Zaraenla, o bisneto de Alma, o Filho. Ele subiu na torre de seu jardim – possivelmente uma estrutura em pirâmide ou monte, onde seus próprios ancestrais foram enterrados – perto da rua principal, e começou o seu lamento:
“Oh! Se eu tivesse vivido nos dias em que meu pai Néfi saiu da terra de Jerusalém” Helamã 7:7
Algo sobre a lamentação de Néfi chamou a atenção das pessoas que passavam por ali – que foi o motivo pelo qual ele se posicionou em direção a estrada, e logo uma multidão se reuniu “admirados” (Helamã 7:11-15).
A lamentação de Néfi provavelmente envolvia algumas ações dramáticas para chamar tanta atenção. Welch sugeriu que:
“Néfi deve ter atraído atenção para sua mensagem ao continuar como se alguém tivesse acabado de falecer. Podemos imaginar Néfi vestido em roupas de luto tradicionais nefitas, gesticulando no topo de sua torre expressões de luto. Os espectadores devem ter imaginado imediatamente quem, na importante aristocracia da casa dos grandes descendentes de Alma, acabará de morrer.”
Enquanto parece ser um comportamento excêntrico para os padrões de hoje, tais ações simbólicas eram um método comum usado pelos antigos profetas hebreus ao deixar uma mensagem.
Por exemplo, Jeremias usou um jugo enquanto profetizava sobre o “jugo” da escravidão babilônica, que cairia sobre o povo de Jerusalém (Jeremias 27:2-11). Jeremias também usou outros atos simbólicos, como esconder um cinto de linho (Jeremias 13:1-11) e quebrar uma botija (Jeremias 19:1–13).
“Atos dramáticos”, explicou o estudioso em Hebreu Donald W. Parry, “capturam a atenção da audiência dos profetas, apelando tanto para a audição quanto a visão. Eles são vívidos coloridos e tridimensionais. Além disso, ações dramáticas podem ser muito mais chocantes do que a palavra falada.”
Como Welch notou, “Se durante aquele momento Néfi conduzia uma lamentação de luto falsa ou uma cerimônia fúnebre, isto teria sido bem curioso”.
O porquê
Se Néfi estava de fato encenando um falso velório, como suas ações dramáticas de lamentação serviriam para enriquecer sua mensagem? Por um motivo, Néfi certamente chamou a atenção das pessoas no centro da cidade de Zaraenla. Seu comportamento era incomum.
Como qualquer bom orador precisa fazer, Néfi primeiro tinha que fazer com que as pessoas parassem o que estavam fazendo e ouvissem.
Os profetas fazem isso frequentemente, para que possamos dar ouvidos as palavras do Senhor, na qual foram comissionados a ensinar. Claramente, como Welch propôs, assumir uma encenação de lamento fúnebre “acrescenta uma rica e interessante possibilidade de significado simbólico a esse texto”.
Por exemplo, “Se a torre de Néfi fosse o jazigo da família (como frequentemente essas torres eram), sua referência à retidão de seus ancestrais em seu funeral alegórico para a nação nefita, teria sido ainda mais emocionante”.
Enquanto as pessoas imaginavam quem havia morrido, elas foram inesperadamente atingidas quando Néfi se voltou contra elas e as condenou por suas iniquidades, ao perguntar “Por que desejais morrer”, ao invés de arrepender (Helamã 7:13-17)?
Logo depois, Néfi previu o massacre do povo, a morte e a destruição pela mão de seus inimigos (Helamã 7:22, 24, 28).
Néfi também deve ter agido e falado dessa maneira para aumentar sua referência a vários precedentes históricos de pessoas que foram livradas da morte.
Ele usou tais modelos como os israelitas que atravessaram o Mar Vermelho e quando olharam para a serpente de bronze no deserto (Helamã 8:11-19).
Como Welch explica, “Os temas de morte e libertação da morte, caracterizam as palavras de Néfi ao longo deste discurso.” Portanto, as consequências de falhar em buscar e receber a libertação do Senhor, teriam sido reforçadas pela encenação de Néfi.
Por fim, Néfi concluiu sua declaração pública ao responder à pergunta que todos tinham em mente naquele momento (“quem morreu?”) com o anúncio profético de que o juiz supremo havia sido assassinado (Helamã 8:27).
Como Welch observou, “Para uma pessoa em particular”, referindo-se do juiz supremo, “o funeral de Néfi foi mais do que uma alegoria”. A veracidade das palavras de Néfi logo foi confirmada, admoestando todos a escutar com atenção as palavras do santo profeta.
Como Welch concluiu, a morte do juiz supremo “não só validou as palavras de Néfi em geral”, mas também apresentou um corpo de verdade, “representando todo o povo de Zaraenla”, finalizando de maneira forte a mensagem profética urgente de seu então aparente sermão fúnebre.
Fonte: The Book Of Mormon Central
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