O que fazer quando descobrimos que podemos perdoar mas não esquecer?
O Élder Jeffrey R. Holland disse uma vez:
“Não queremos que Deus Se lembre de nossos pecados, portanto é muito errado insistirmos em lembrar dos pecados das outras pessoas.“
Sabemos que Deus nos prometeu que, quando verdadeiramente nos arrependermos, ele não se lembrará mais dos nossos pecados. Maravilhamo-nos com isso, o completo perdão. Na mortalidade tentamos perdoar, mas alcançamos esse nível divino, onde não podemos mais lembrar-nos do pecado?
Obviamente, quando alguém representa um perigo, temos de manter a distância. Recordar o abuso tem um propósito: proteger-nos.
Porém, me refiro a outros rancores a que nos agarramos, lembrando-nos de ofensas, cedendo a um pouco de auto piedade ou ressentimento. Isto também se aplica aos erros passados de alguém que não têm nada a ver conosco, mas que estamos cientes. Abuso de drogas, escolhas imorais, desonestidade nos negócios, todo o tipo de verdades e rumores que conhecemos sobre alguém.
Sermos ferramentas no processo do arrependimento
Primeiro, vamos refletir sobre nossas dores pessoais. Não sei se é possível apagar as nossas memórias de maus tratos, mas podemos ameniza-las. Podemos procurar atributos positivos da pessoa, e até mesmo servi-las. Quando servimos as pessoas com compaixão genuína, automaticamente sentimos mais afeto por elas.
Podemos assumir o melhor – que as suas palavras desagradáveis direcionadas a nós, resultaram dos seus próprios problemas. Elas foram maltratadas? Falta-lhes confiança? Estão com ciúmes? Será que sua animosidade realmente tem razão para existir (em outras palavras, eu as magoei sem saber)?
Podemos reanalisar as suas ações para que não levemos a ofensa para o lado pessoal. Em vez disso, nós os vemos lutando uma batalha interior. E talvez até possamos ajudar.
E as outras coisas de que nos lembramos? Às vezes mantemos vivos os erros do passado de uma pessoa e manchamos uma reputação. Isto é particularmente perigoso, porque tornamos ainda mais difícil que essa pessoa se arrependa e corrija seus erros.
O “João” em nossa vida
Digamos que você ouviu que o “João” enganou outro amigo na venda de um carro. Sim, também ouviu que o João fez as pazes e pagou ao amigo o que era devido. Mas é aqui que o adversário entra. “Ainda assim,” ele sussurra, “que tipo de pessoa faria isso? Alguém desonesto e egoísta. Alguém que você quer evitar.”
Não fazemos ideia das lágrimas, da angústia e da humilhação que João passou enquanto procurava a sua alma e buscava a coragem para fazer a coisa certa. E agora, transformado através do perdão de Cristo, João olha para trás, para o que ele fez e quase não consegue acreditar.
Ele é repelido com o pensamento de nunca mais lidar com seus assuntos dessa maneira. Ele transborda de gratidão para com Deus por perdoá-lo e dar-lhe uma segunda chance, mas depois há mortais.
Pessoas que ouviram boatos sobre o “João” nas suas vidas, que acumularam outras acusações ou memórias ruins e que não vão esquecer. Todos nós conhecemos indivíduos e famílias inteiras que realmente se mudaram a fim de começar de novo e fugir de todos aqueles com memórias afiadas.
Como Cristo lidaria com a situação?
Como é que Cristo teria lidado com o João? Ele o manteve perto, provavelmente. Cristo sorriu para ele e sentiu-se orgulhoso do esforço que João para mudar, para nascer de novo. Contudo, não há humanos suficientes que reajam com tanto amor.
O Élder Neal A. Maxwell resumiu o nosso dever de perdoar com esta perspectiva interessante:
“Não podemos arrepender-nos por outras pessoas. mas podemos perdoar outras pessoas, recusando-nos a manter como reféns aqueles que o Senhor procura libertar.”
Um amigo meu a quem vou chamar “Gus” foi contatado no Facebook por um velho amigo de escola. Logo o amigo estava postando memórias de “festas” com Gus, até citando Gus com uma linguagem inapropriada. Gus ficou aflito.
Ao longo dos anos, ele havia mudado completamente, ele se arrependeu de suas atitudes na juventude, e agora estava ativo e feliz servindo em um chamado na Igreja e criando uma família. “Será que foi por isso que Alma, o filho, partiu?”, disse ele.
“Talvez ele ficou cansado de pessoas dizendo: “isso é muito diferente do que você costumava dizer. Você costumava dizer…” Gus pensou que talvez Alma, o filho, tivesse muita bagagem na sua cidade natal, e conhecia demasiadas pessoas que se recusaram a aceitar o novo e aperfeiçoado Alma.
Claro que a Alma e os filhos de Mosias queriam ajudar os lamanitas. Mas Gus achou que fugir daquelas pessoas também tinha sido um alívio bem-vindo.
A alegria de ser perdoado
Quando ouvimos falar dos erros de alguém, precisamos nos lembrar dos nossos. Também precisamos nos lembrar de como o Senhor é compreensivo.
Podemos até fazer disso uma questão de oração. “Como posso ajudar aquela irmã ou aquele irmão?” E então lembrar que realmente devemos nos ver como irmãos e irmãs. O Presidente Henry B. Eyring ensinou:
“Ao perdoarmos, sentimos a alegria de ser perdoados.”
Às vezes a nossa memória de um incidente doloroso pode desaparecer com o tempo se simplesmente pararmos de alimentá-la. Pare de pensar nisso, pare de imaginar finais positivos, pare de compartilhá-lo com os outros. Esqueça isso.
Encontrei uma mulher recentemente que começou a se desculpar por algo que me tinha feito, e só depois dela começar a recontar o evento é que me lembrei do que aconteceu.
Simplesmente não podemos encher as nossas vidas com todas as nuvens negras ou nunca veremos a luz do sol. Temos que mudar nosso foco para Cristo e o bem que podemos fazer enquanto estamos aqui.
Não há problema em nos lembrarmos de eventos passados. Não podemos causar amnésia em nós mesmos. Mas podemos deixar o passado no passado e seguir em frente. Nossas vidas podem encher-se com a alegria do evangelho, com a fé em Cristo e com o serviço ao próximo.
Amai vossos inimigos
Podemos sentir a paz de perdoar mesmo aqueles que não se arrependem. Também podemos escolher gostar de alguém. Há uns anos, percebi que gostava de pessoas que gostavam de mim, mas não gostava tanto daqueles que não gostavam.
É natural gostar mais da companhia dos amigos do que dos inimigos, certo? Mas percebi que só de pensar em inimigos me sentia triste. Então escolhi um de cada vez e decidi gostar dessa pessoa. Eu procurava o que era bom e perdoava o que era ruim. Não consigo explicar como isso foi libertador.
A liberdade está nas notícias hoje – liberdade de religião, liberdade de expressão, muitas liberdades que grandes homens morreram para defender. Que tal a liberdade de mudar de ideias? Você pode deliberadamente escolher para parar de odiar alguém e simplesmente decidir gostar dele.
Deus os ama. E provavelmente suas mães também. Você também consegue. Você pode procurar o potencial deles em vez dos erros.
Na verdade, isto é um mandamento. Devemos perdoar a todos. Deus julgará com perfeito conhecimento, mas devemos simplesmente perdoar. Então, vamos lembrar as palavras de Elder Dieter F. Uchtdorf quando ele disse:
“Lembrem-se de que o céu está cheio de pessoas que têm em comum o seguinte: Elas foram perdoadas. E elas perdoam.”
Todos queremos estar nesse grupo.
Fonte: Meridian Magazine
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