Luta contra a pornografia: uma entrevista sobre arrependimento e superação

Por mais difícil que o tema pornografia possa ser, a realidade é que, como discípulos de Cristo, não podemos fechar os olhos para o problema. E, enquanto muitos se chocam ou, em alguns casos, se escandalizam com a ideia de discutir o assunto e as soluções de maneira aberta e reverente, outros sofrem os efeitos do vício e, por medo ou vergonha, jamais pedem ajuda.

Se você passa por isso, saiba que não está sozinho e existe esperança. A Igreja de Jesus Cristo tem uma sessão em seu site somente sobre o assunto, veja aqui.

A entrevista abaixo foi realizada pelo site IntérpreteNefita com um membro ativo da Igreja que luta contra o vício da pornografia. Com o objetivo de preservar a identidade do entrevistado, o seu nome foi alterado.

Entrevistador: Em que momento de sua vida você teve o primeiro contato com material pornográfico?

José: Na adolescência, por volta dos quatorze anos. O método foi o mais comum: colegas de escola. A exposição a material pornográfico na época, quase que exclusivamente impresso, era frequente entre companheiros de escola, vários já usuários de pornografia àquela idade.

Entrevistador: Como isso afetou a sua vida naquela ocasião?

José: Na época, isso não me afetou diretamente, mas o efeito foi permanecendo conforme o tempo passava. Mesmo que as exposições fossem esporádicas, o efeito de cada uma delas era duradouro o suficiente para permanecer por anos; e várias coisas entravam no ciclo para perpetuar o efeito… pensamentos, masturbação e conversas são alguns dos exemplos mais comuns. No entanto, os efeitos mais graves só foram aparecer mais tarde.

Entrevistador: A que efeitos mais graves se refere?

José: Refiro-me ao impacto social e psicológico que a pornografia invariavelmente tem sobre o usuário. Ela afetou drasticamente meu modo de olhar para as pessoas, especialmente as mulheres, afetou minha capacidade de ter um relacionamento normal e, por fim, minou minha capacidade de amar. Esses efeitos, penso eu, são mais perigosos do que a dependência em si, porque são os mais difíceis de reverter.

Entrevistador: Em sua experiência, qual é a maior dificuldade que uma pessoa viciada em pornografia possui na luta para abandonar o problema?

José: A maior dificuldade é, sem dúvida, reconhecer que ela é nociva. A maioria das pessoas considera a pornografia uma coisa normal, e ninguém reconhece seus efeitos, inclusive depois de uma longa exposição. Muitos passam sua vida inteira sem perceber que seu comportamento problemático é, na verdade, fruto da pornografia. Quando os efeitos malignos da pornografia (que são sutis, porque agem somente na mente de quem usa) são reconhecidos, o usuário reconhece também que seu pensamento e mente estão distorcidos; eu, por exemplo, olhava para casais felizes e perguntava-me o que os fazia assim. Eu não reconhecia mais o amor puro e sincero, e sofria por causa disso; eu confundia amor com lascívia. Por isso eu insisto: reconhecer o efeito corrosivo da pornografia é o passo mais difícil na luta pela liberdade, os outros vêm mais naturalmente.

Entrevistador: Em que momento você se deu conta de que precisava de ajuda?

José: Aconteceu durante um dos dias em que eu usei pornografia pela última vez. Enquanto eu via o material, minha mente produziu o pensamento: “Que sentido faz isso?”. Percebi que não havia sentido nenhum na pornografia: ela não me dá nada do que eu busco em minha vida pessoal, e eu sabia (porque havia pesquisado bastante a respeito) que tudo aquilo era fake. São atores, afinal de contas. Daí em diante, percebi que eu buscava a pornografia por causa de um vício ou algum outro tipo de distúrbio psiquiátrico.

Entrevistador: Que tipo de ajuda você buscou quando reconheceu que tinha um vício?

José: Primeiramente, psicológica. É difícil encontrar um psicólogo que entenda o que é o veneno da pornografia e seus efeitos. Foi numa psicanalista que encontrei o que eu precisava. Ela me ajudou a entender o que era aquilo e como combater. Por ser um distúrbio de ordem psiquiátrica, ela me indicou um psiquiatra que me ajudou a entender melhor o que se passava: a pornografia emula no cérebro a mesma química de uma relação sexual entre homem e mulher. No entanto, por se estar sozinho e pela natureza puramente gráfica do material, ela falha nos níveis de hormônios responsáveis pelo prazer e pela satisfação. Como são imagens que mexem com um instinto, elas ficam gravadas mais fundo na mente (assim como a palavra “hamburguer” desperta inconscientemente a imagem de um sanduíche em sua mente) e são mais difíceis de esquecer. O tratamento envolve terapia e medicamentos, mas são extremamente benéficos para a recuperação.

Entrevistador: Que tipo de ajuda você buscou para reparar os danos espirituais que a pornografia causou em sua vida?

José: A ajuda espiritual veio principalmente pelo meu Bispo. Era a pessoa que, no momento, tinha a autoridade para me ajudar como deveria. Normalmente, as pessoas começam com julgamentos tão logo saibam que você é usuário de pornografia, mesmo que esteja se esforçando para livrar-se do vício. O Bispo, no entanto, tanto tem as chaves para ajudar quanto o bom senso e discernimento para não tornar a confissão um evento mais difícil do que já é.

Entrevistador: Como foi o antes, durante e depois da confissão?

José: Antes da confissão, veio a ansiedade e a dúvida. O que será que ele vai pensar de mim? Perderei meus chamados? Farão um conselho disciplinar? Serei desassociado? Essas eram as perguntas mais comuns. No entanto, quando cheguei na mesa do Bispo, ele começou com uma oração que nos encheu do Espírito do Senhor e ajudou a criar um ambiente mais tranquilo. Quando confessei, ele não demonstrou nada a não ser amor e disposição para ajudar. Ele me ensinou que o arrependimento é um processo que pode levar anos, e que o serviço na Igreja só ajuda. Ele manteve meus chamados, fez metas comigo, principalmente para ajudar-me a não acessar a pornografia e, principalmente, demonstrou apoio. Depois, o acompanhamento foi constante. Todas as semanas, ele me chamava para saber como estava, ligava para mim, me incentivava durante o tratamento e me animava quando eu tinha recaídas. O acompanhamento foi ficando menos frequente conforme o tempo passava, mas nunca parava. Hoje, ele apenas pergunta: “Está tudo bem?”, e eu já sei do que ele está falando, mesmo que não seja mais meu bispo. Confessar nunca é fácil, mas é parte vital no processo de recuperação.

Entrevistador: Que conselhos você daria a líderes da Igreja para ajudá-los a serem mais eficientes no suporte a pessoas com vício em pornografia?

José: Eu diria três coisas:

  1. Que eles sejam pacientes. A luta contra o vício demora para surtir efeito, e recaídas são comuns.
  2. Não encarem como um problema espiritual somente. O uso e dependência da pornografia estão intimamente ligados com ansiedade, depressão e solidão. Incentivem os envolvidos com pornogra a procurarem ajuda psicológica e psiquiátrica, se for necessário.
  3. Sejam amorosos. O viciado normalmente tem problemas de confiança, de relacionamento social e depressão. As feridas fecham, mas as cicatrizes incomodam. Não cutuquem essas cicatrizes nem permitam que sejam cutucadas.

Tive sorte de ter líderes que foram bons para comigo e que foram pacientes, sábios e amorosos, mas reconheço que nem sempre é assim. Rogo para que os líderes amem seus liderados como Cristo amou a mulher pecadora e que não os exponham a mais dor do que já estão passando.

Entrevistador: Que ferramentas ou práticas têm se mostrado eficazes em sua luta pessoal para recuperar-se e superar o problema?

José: Sinceramente, ferramentas são de pouca ou nenhuma utilidade quando o vício já está instalado. Normalmente, para evitar a exposição à pornografia, usam-se filtros de internet e monitoramento, e essas coisas são muito eficazes se o vício não existe. Porém, se o vício já existir, a tarefa fica muito mais difícil. Se eu fosse dar sugestões, sugeriria o seguinte: primeiro, procure um psicanalista. O uso da pornografia é mais comum do que se imagina e eles são treinados para lidar com isso. Segundo, procure um psiquiatra, se seu psicanalista disser que você tem depressão, ansiedade ou os dois, não ache que conseguirá, com a força do pensamento, superar um problema fisiológico sem ajuda. Terceiro: encontre algo para descarregar suas emoções.

Normalmente, queremos sentir coisas e ter experiências que nunca tivemos quando usamos pornografia, e ficamos frustrados quando essas experiências não acontecem. Eu consegui descarregar jogando videogame (é a minha paixão, podem me julgar) e fazendo trabalho voluntário. Tem pessoas que descarregam fazendo exercícios, ou usando a arte. Busque algo que gosta e invista! Logo, a pornografia deixa de ser atraente, se não lhe der atenção suficiente.

Entrevistador: O que lhe motiva e dá força espiritual para levantar-se após recaídas e reiniciar a luta contra a pornografia?

José: Minha motivação principal vem do Plano de Salvação, principalmente da Expiação. Toda vez que tenho um incidente, eu me lembro do Sacrifício de Cristo e das promessas eternas, e isso me dá forças para continuar lutando. Eu sei que talvez jamais estarei totalmente livre da pornografia, mas minha esperança no amor do Salvador me mantém firme nessa luta que, provavelmente, só terá fim quando eu deixar este corpo mortal.

Entrevistador: De que maneira o conhecimento da Expiação o tem ajudado em sua luta contra o vício?

José: A Expiação é o ponto central do Evangelho, e o ponto central da minha vida. Se eu não soubesse que Cristo pagou pelos meus pecados e me possibilitou o arrependimento, eu jamais teria entrado nessa batalha. Mas eu sei que Cristo vive, e que Seu Sacrifício é verdadeiro, e meu desejo é de fazer esse Sacrifício valer a pena.

Veja também:

Por que a pornografia é prejudicial à saúde e como eliminar o vício

Posto original de Maisfé.org

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