Algo sobre a depressão que precisamos estar atentos
Apesar de não parecer, o assunto sobre a depressão ainda é debatido e interpretado erroneamente. Temos medo de mexer na ferida do outro ou em nossa própria. Ficamos receosos de não saber como abordar ou como lidar com a dor. Preferimos nos abster. Mas será que isso é o ideal? Como identificar as pessoas que sofrem com depressão? Alias, é possível identificá-las?
Antes de respondermos a essas e outras questões, vamos entender um pouco melhor o que é a depressão.
O que é a depressão?
É comum que, ainda hoje, a depressão não seja vista como uma doença, o que pode ter consequências graves. Os preconceitos e estigmas que costumam ser relacionados a transtornos psicológicos podem resultar, entre outros problemas, em tratamentos mal realizados (quando realizados) e recaídas. Um dos motivos dessa má interpretação é que, muitas vezes, o problema é confundido com tristeza ou preocupações passageiras.
Ainda não se sabe quais são as origens da depressão, uma doença complexa que tem consequências físicas e emocionais. “Conhecida também como Transtorno Depressivo Maior (TDM), é caracterizada por sinais que interferem na habilidade para trabalhar, estudar, comer, dormir e apreciar atividades antes agradáveis”, explica Acioly Lacerda, professor da Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP). O problema é mais comum entre pessoas de 20 e 40 anos, mas pode ocorrer em qualquer faixa etária.
“Existem dois sintomas centrais: tristeza persistente e perda de interesse por atividades das quais costumava gostar. Para a depressão, ao menos um deles deve estar presente e tem que durar no mínimo duas semanas. Mas há outros que são secundários, como alteração de peso ou da libido para mais ou para menos, dificuldade de concentração, perda de memória, sentimento de culpa inapropriado e alteração no sono”, completa o especialista.
Apesar das confusões relacionadas à depressão, há problemas que realmente têm ligação, caso da ansiedade. Lacerda explica que é frequente que ambos ocorram ao mesmo tempo.
“Quem tem ansiedade crônica, em cerca de 70% dos casos, desenvolve depressão e o contrário também é verdadeiro”, explica o psiquiatra, que ressalta que, nesse caso, o diagnóstico também deve ser feito por médicos.
De acordo com o especialista, entre os fatores de risco para a depressão estão: pessoas com histórico familiar (fator genético) da doença; que enfrentam situações repetidas de estresse; que tenham perdido um dos pais ainda na infância ou sofrido qualquer tipo de abuso nessa época. “Nas mulheres, os períodos pré-menstrual, pós-parto e menopausa são de maior risco para desenvolver a doença. E cerca de 17,5% da população apresentará pelo menos um episódio depressivo ao longo da vida”, completa Lacerda.
Estatísticas
Novos dados divulgados pela Organização Mundial de Saúde (OMS) mostram que os casos de depressão estão aumentando globalmente – 18,4% desde 2005 –, e que, até 2020, a doença será a enfermidade mais incapacitante em todo o mundo. No Brasil, em 2016, cerca de 75,3 mil trabalhadores foram afastados pela Previdência Social em razão do mal. Hoje, o país é considerado o campeão de casos na América Latina, com 5,8% da população com depressão.
Depressão Sorridente
Há muitos que pensam que a depressão é caracterizada somente por uma triste profunda. Apesar de pessoas com depressão apresentarem em sua maioria, tristeza em seus semblantes, a tristeza não é a única forma de identificarmos que uma pessoa sofre de depressão. A depressão carrega muitos estigmas que acabam estereotipando quem sofre com a doença. Tendemos a pensar que a pessoa deprimida não pode levar uma vida normal, que ela só fica na cama e não consegue ir para o trabalho, que chora fácil e que adota uma postura inclinada e triste quando anda. No entanto, esta imagem é um clichê comum, cada pessoa é um mundo e lida com a depressão de forma diferente. Na verdade, você sabia que aproximadamente 71% daqueles que sofrem de depressão tentam ocultá-la?
Alguns estão deprimidos, mas conseguem ser funcionais e até brincalhões em suas vidas diárias. Estas são pessoas que carregam sua dor por dentro, não a externalizam, mas ela as consome lentamente, até que em algum momento elas desmoronam porque já não conseguem mais suportar o peso da máscara que construíram e usaram por meses ou anos.
Na verdade, no campo da Psicologia há o que é conhecido como “depressão sorridente“. É o depressivo que simula uma aparência de normalidade e até mesmo de felicidade, mas experimenta os sintomas de depressão dentro de si mesmo, mas sem expressá-los, sempre tentando escondê-los. Como resultado, os outros podem pensar que ele tem uma vida perfeita.
A famosa expressão “nem tudo que reluz é ouro”, traduz bem essa realidade. Muitas vezes, as pessoas passam despercebidas por nós, por acharmos que elas são felizes demais para terem depressão. Em sua maioria, as pessoas que sofrem com a depressão, mas não demonstram, têm medo e vergonha de falar sobre seu problema, não querem reconhecer a depressão, não querem preocupar outras pessoas e/ou estão preocupados com sua imagem.
Pessoas introvertidas, que tendem a ocultar seus problemas ou acham difícil falar sobre suas emoções. Pessoas perfeccionistas, que exigem muito de si mesmos e acreditam que não podem falhar em qualquer área da vida. E pessoas hiper-responsáveis, que acreditam que carregam o mundo em seus ombros e pensam que se caírem, um cataclismo de proporções épicas ocorreria, são as que estão mais suscetíveis a sofrer de depressão sorridente.
Fingir ser feliz não é a solução
Um estudo particularmente interessante realizado na Michigan State University analisou o impacto de um sorriso falso sobre o nosso humor. Esses psicólogos seguiram um grupo de motoristas por duas semanas e descobriram que quanto mais sorrisos fingiam, pior ficava o seu humor quando voltaram para casa. Um humor marcado pela irritabilidade, raiva e tristeza.
Portanto, é importante estar ciente de que as emoções negativas não desaparecem por si mesmas, elas devem ser abordadas. Ocultar ou evitar o problema não fará com que ele seja corrigido. Além disso, você também deve saber que a depressão não só é resolvida dentro dos muros da psicoterapia. A família e os amigos podem desempenhar um papel importante, desde que assumam uma atitude de apoio.
Por outro lado, se você conhece alguém que tenta esconder a depressão por trás de um sorriso, fale com essa pessoa. Não a pressione a falar sobre sua situação porque, dessa forma, ele provavelmente se fechará ainda mais. Em vez disso, mostre sua vulnerabilidade e conte seus problemas. Desta forma, você poderá se conectar emocionalmente e será mais fácil para ela se sentir identificada com suas dificuldades e contar as dela.
A ajuda do Salvador
Saber que Cristo compreende a depressão é um ponto importante, mas saber que Ele é capaz de curar a depressão é vital. O Presidente Dallin H. Oaks, ensinou:
“Muitos de nós carregam fardos pesados. (…) [Tais como os que] têm terríveis sentimentos de depressão ou incapacidade. (…)
As escrituras relatam várias ocasiões em que o Salvador curou os oprimidos. (…)
Jesus curou muitos de doenças físicas, mas não deixou de curar os que buscavam “ficar sãos” de outras enfermidades. Mateus escreveu que Ele curava toda sorte de enfermidade e doença entre o povo (ver Mateus 4:23, 9:35). Grandes multidões O seguiam e Ele “curou a todas” (Mateus 12:15). Certamente essas curas incluíam enfermidades emocionais, mentais ou espirituais. Ele curou a todas. (…)
Quando o Salvador apareceu aos justos no Novo Mundo, pediu aos coxos, cegos e outros enfermos que se aproximassem. Fez o mesmo convite às pessoas que estavam “aflitas de algum modo” (3 Néfi 17:7). “Trazei-os aqui”, disse Ele, “e eu os curarei” (v. 7). O Livro de Mórmon conta que a multidão trouxe “todos aqueles que estavam aflitos de qualquer forma” (v. 9). Isso deve ter incluído pessoas com toda espécie de aflições físicas, emocionais e mentais. E as escrituras testificam que Jesus “curou a todos” (v. 9).” (“Ele cura os oprimidos”, Conferência Geral outubro de 2006)
A cada um de nós, o Salvador faz um carinhoso convite:
“Vinde a mim, todos os que estais cansados e oprimidos, e eu vos aliviarei. Tomai sobre vós o meu jugo, e aprendei de mim, que sou manso e humilde de coração; e encontrareis descanso para as vossas almas. Porque o meu jugo é suave e o meu fardo é leve” (Mateus 11:28-30).
Se você sofre com a depressão ou conhece alguém que esteja passando por isso, nesse momento, busque ajuda profissional. Não tenham medo! Confiem em seus líderes locais, eles podem dar-lhes ajudas adicionais de grande tamanho.
Para finalizarmos, lembremo-nos das palavras de Cristo, em Doutrina e Convênios 6:36:
“Buscai-me em cada pensamento; não duvideis, não temais.”
Como combater a depressão em uma religião que só fala de felicidade
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