Como posso construir novos relacionamentos depois de sair de um relacionamento abusivo
Pergunta
Sou conversa na Igreja e estive dentro de um relacionamento abusivo por 15 anos, antes de ter coragem de termina-lo. Não sei como socializar ou estabelecer um relacionamento com alguém do sexo oposto. Não sei se conseguirei confiar em alguém novamente. Como posso resolver o meu problema?
Resposta
Muito obrigado por entrar em contato conosco. O período que alguém sofre sendo abusado física, emocional ou sexualmente, não importa, porque qualquer tipo de abuso é intolerável. Mas quinze anos são longos anos de sofrimento. Esse tipo de sofrimento pode acabar com a confiança em sua habilidade de julgar o caráter de outras pessoas, trazer o sentimento de que o mundo e as pessoas estão inseguros, e criar um desejo compreensível de querer passar o resto de seus dias sozinho, ao invés de arriscar ser ferido novamente. Contudo, existe esperança por meio do Salvador, pelo poder Dele, e as ferramentas e conhecimento que Ele disponibilizou para nós.
Respeitamos muito a coragem requerida para sair desse tipo de situação, onde manipulação, ameaças e medos pode ser tão frustrante. Agora que está livre desse relacionamento, a primeira coisa que precisa ter certeza é que não foi culpa sua. Você provavelmente já sabe disso, ou ainda há efeitos residuais das mentiras que o seu abusador te disse e que te levaram a se sentir culpada.
O Élder Richard G. Scott disse:
“Testifico solenemente que, quando os atos de violência, perversão, ou incesto, de outra pessoa, vos magoam terrivelmente, contra vossa vontade, não sois responsáveis e não deveis sentir-vos culpados. Podeis ficar marcados pelo abuso, mas essas marcas não precisam ser permanentes.” (“Curar as cicatrizes trágicas do abuso,” Conferência Geral – Abril 1992
Temos certeza que você reconhece que passou literalmente por um trauma. Você pode estar sofrendo com estresse pós-traumático ou talvez apresentando alguns dos sintomas. O estresse pós-traumático acontece quando acreditamos que o mundo é um lugar seguro e então essa crença é destruída.
Nosso alicerce não está seguro porque não sabemos em quem confiar, e talvez não confiemos em nós mesmos para julgar de maneira correta, se uma pessoa é nossa aliada ou uma ameaça. E as lembranças do abuso despertam uma resposta de medo, sugerindo que o nosso mundo não é um lugar seguro.
Se você ainda não procurou, aconselho firmemente que procure ajuda profissional qualificada para te ajudar a sobrepujar essas coisas. Pedir ajuda não é sinal de fraqueza. Até mesmo o Salvador permitiu que ajudassem Ele. Existem várias abordagens terapêuticas para tratar traumas gerados por abuso, como EMDR, terapia narrativa e terapia por exposição.
O EMDR (Dessensibilização e Reprocessamento por meio dos Movimentos Oculares) afeta como os incidentes traumáticos são armazenados no cérebro, usando uma combinação de estimulações físicas e psicológicas para reduzir a frequência, clareza e intensidade emocional de memórias traumáticas.
A terapia narrativa envolve criar novos significados para os eventos traumáticos. Ajuda a tornar essas memórias em algo forte ao invés de algo doloroso. Por exemplo, você pode aprender a mudar o seu pensamento de “sou uma vítima e meu mundo é perigoso” para “sou uma sobrevivente, uma aliada para aqueles que sofrem, e posso tomar medidas para me proteger.”
A terapia expositiva te ajuda a aprender a como regular a sua resposta física a gatilhos, te ensina a identificar esses gatilhos e pratica habilidades para se auto acalmar, acessar a sua situação de segurança e criar planos específicos para se proteger e se sentir forte e empoderada.
Não deixe o nome te assustar. Um terapeuta capacitado começará devagar, primeiro com exercícios de auto calma, depois exercícios mentais para imaginar gatilhos e ver como você lidará com a situação, e gradualmente, quando estiver pronta, confrontar um gatilho verdadeiro (o que você já está fazendo ao interagir com o sexo oposto, então você fará com o suporte de uma ajuda qualificada).
Agora vamos falar mais sobre o ponto da sua pergunta: socialização, estabelecimento de relacionamento com o sexo oposto, e aprender a confiar, estão somente em seu poder, mas se você trabalhar o trauma com ajuda qualificada.
Ao falar de socialização, os pontos mais importantes para se lembrar são: sair um pouco da sua zona de conforto, mas não muito. Se force um pouco, mas não muito. Quanto mais você socializa e mais constrói experiências (mesmo que seja somente um pouco), mais o seu cérebro irá associar pessoas com amizade, bondade e apoio, e menos com perigo e abuso.
A cada semana e a cada mês, você será capaz de ir um pouco mais longe. Mostre interesse nos outros, no que pensam, com o que se importam. Se preocupe menos sobre eles estarem interessados em você. Mostre compaixão, seja gentil, demonstre interesse.
Para aprender a confiar e construir relacionamentos saudáveis com pessoas do sexo oposto, recomendo o livro ‘How to Avoid Falling in Love with a Jerk’ do Dr. John Van Epp. A confiança precisa ser merecida.
Mas como diferenciamos pessoas boas de lobos em pele de cordeiro? Ao realmente conhece-los. Ao comparar o que pensamos sobre eles com as evidências que observamos. Ao não nos envolvermos fisicamente ou entrarmos em um compromisso até que tenhamos tido o tempo necessário para observar a pessoa em diversas situações.
Ao não confiar em alguém mais do que realmente o conhecemos, ao explorar quão forte a consciência dele é, o que eles aprenderam de suas famílias, o quão compatível são, se realmente compartilham ou não os mesmos valores, e como foram os relacionamentos anteriores. Todos esses pontos e outros são discutidos nesse livro.
E em meio a tudo, se volte para o Salvador. Ele conhece muito bem a dor do abuso. Ele foi amaldiçoado, criticado, odiado e desprezado. Ele sofreu uma violência horrorosa nas mãos de outras pessoas. Ele conhece a sua dor, por experimenta-la no Getsêmani e em outros lugares. Este entendimento faz Dele o perfeito aliado para te ajudar (ver Alma 7:11-12). Ele aliviará os teus fardos, te dará forças para carrega-los, te ajudará a não sentir raiva, dor e amargura ao ajudá-la a perdoar. Jesus Cristo te ajudará a se libertar do trauma e a não ser definida por ele.
Fonte: LDSLiving
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