O verdadeiro dilema das redes

“O Dilema das Redes” é o mais novo documentário da Netflix sobre o perigo das redes sociais.

O documentário faz um bom trabalho ao abordar sobre como as redes sociais (Facebook, Twitter, Pinterest, etc.) impactam negativamente a sociedade.

Porém, se você está procurando por uma análise completa sobre o que está errado ou por possíveis soluções, então este documentário vai deixar você querendo mais.

Neste artigo discutiremos alguns tópicos específicos que não foram explorados em ‘O Dilema das Redes’.

A Inteligência Artificial não é tão impressionante

Termos como “big data” e “aprendizado de máquina” são exagerados, e pessoas leigas não percebem que essas ferramentas são mais impressionantes apenas em um conjunto restrito de circunstâncias. Na maioria dos casos do mundo real, os resultados são dramaticamente menos impressionantes.

Isto é importante porque a força do documentário vem de assustar as pessoas, mas a IA (inteligência Artificial) não é tão assustadora assim.

Não culpo o documentário por não se aprofundar muito em detalhes sobre aprendizado de máquina. Sem um conhecimento prévio em estatística e ciência da computação, é difícil entrar nestes detalhes.

No entanto, não aprovo o sensacionalismo. Em certo momento, Tristan Harris (um dos entrevistados) faz uma observação interessante de que não devemos nos preocupar quando a IA supera as forças humanas, mas quando supera as fraquezas humanas.

Não chegamos ao ponto em que a IA é melhor do que um ser humano em aspectos em que os humanos são bons – pensamento criativo, linguagem, etc.

Porém, já passamos muito do ponto em que a IA é melhor do que os humanos nas coisas em que os humanos são ruins, como por exemplo, memorizar e processar grandes conjuntos de dados.

Se a IA é implantada de forma a potencializar as fraquezas humanas, como nossas inclinações cognitivas, então devemos nos preocupar. Até agora, isso é razoável, ou pelo menos interessante.

Então, (eles mostram um clipe de uma apresentação que ele estava fazendo) ele diz algo como “um xeque-mate na humanidade”.

Não sei se é o sensacionalismo na apresentação do Tristan ou se é a edição do documentário, mas de qualquer maneira, achei muito forçado.

Todas as invenções nos manipulam

correntes

Em outro momento, Tristan tenta ilustrar como a rede social é fundamentalmente diferente de outras invenções humanas, comparando-a com uma bicicleta. “Ninguém ficou chateado quando as bicicletas apareceram”, diz ele.

“Ninguém disse… nós apenas arruinamos a sociedade. As bicicletas estão afetando a sociedade, estão afastando as pessoas de seus filhos. Elas estão arruinando a estrutura da democracia.”

É claro que isso não é verdade. Os jornalistas sempre buscaram o sensacionalismo e o medo como forma de vender seus jornais e houve muito pânico em torno do lançamento das bicicletas.

No entanto, o verdadeiro ponto de Tristan é que as bicicletas são uma invenção passiva. As pessoas não são pressionadas ativamente a andar de bicicleta. Elas só ficam ali, esperando que você decida usá-las ou não.

Dentro dessa visão, você pode dividir as invenções humanas em tudo antes da rede social (objetos inanimados que cumprem nossas ordens) e depois da rede social (objetos animados que nos manipulam).

Essa dicotomia não é verdadeira.

Primeiro, toda invenção humana de sucesso muda o comportamento individual e coletivo. Se você tem uma bicicleta, então o caminho que você faz para o trabalho pode muito bem mudar. De certo modo, a bicicleta diz para você aonde ir.

Para enfatizar esse ponto, tente imaginar como seria o seu país no século 21 se o carro nunca tivesse sido inventado. Sem sistema de rodovias interestaduais, sem subúrbios ou shoppings, sem cultura automobilística.

Para o bem e para o mal, a mera existência de uma ferramenta como o carro transformou quem somos individual e coletivamente. Todas as invenções têm consequências culturais como essa, em maior ou menor grau.

Segundo, a rede social está longe de ser a primeira invenção que se propõe explicitamente a manipular as pessoas.

Propagandas, campanhas de desinformação e guerras psicológicas são uma categoria óbvia de exemplos com raízes que remontam à pré-história.

Contudo, para aproximar as coisas das redes sociais, todas as mídias de transmissão apoiadas por anúncios têm basicamente o mesmo modelo de negócios: manipular as pessoas cativando sua atenção para que possam vender anúncios.

Foi assim que o rádio e a TV tiveram seu início comercial: com exatamente a mesma declaração de missão do Gmail, do Google ou Facebook.

É demasiado dizer que se possa dividir as invenções humanas em antes e depois da rede social. Acontece que todas as invenções influenciam as escolhas que fazemos e muitas delas o fazem por design.

Isso não quer dizer que nada mudou, é claro. A maior diferença entre redes sociais e mídia de transmissão é que seu feed de rede social é individualizado.

Com a mídia de massa, as empresas tinham que escolher seu público de maneira geral (sábado de manhã para crianças, horário nobre para famílias, tarde da noite apenas para adultos) ou tentar abordar dois públicos ao mesmo tempo (piadas internas para adultos dentro de filmes comercializados para crianças).

Já a rede social, é como se você tivesse uma estação de rádio ou um estúdio de TV voltado exclusivamente para você.

Assim, as redes socias apresentam alguns novos desafios, mas estamos falando sobre avanços e refinamentos para o jogo mais antigo da humanidade – manipular outros humanos – em vez de um novo e sem precedentes desenvolvimento, sem precursor ou contexto.

O consumismo é o verdadeiro dilema

O assunto mais interessante do documentário, pelo menos para mim, foi abordado por Jaron Lanier. Quando todo mundo estava repetindo aquele clichê sobre “você é o produto, não o cliente”, ele deu um ou dois passos adiante.

Não é que você seja o produto. Nem é que sua atenção é o produto. O que realmente está sendo vendido pelas redes sociais, apontou Lanier, é a capacidade de manipular o comportamento humano.

Este é um ponto importante, mas levanta uma questão muito maior que o documentário não abordou.

Se a publicidade não manipula o comportamento humano, por que gastar dinheiro? Se você não pode manipular o comportamento humano com um outdoor, trailer de filme ou propaganda de rádio, então ninguém investirá dinheiro em nenhuma dessas coisas.

Este é o ponto crucial da minha discordância com “O Dilema das Redes”. O veneno não é a rede social. O veneno é propaganda. O perigo da rede social é apenas que (dentro do modelo de negócios atual) é um método muito mais eficaz de distribuir o veneno.

Quero deixar claro que a publicidade não é puro mal. Não há nada intrinsecamente errado em mostrar às pessoas um novo produto ou serviço e tentar persuadi-las a pagar por isso.

A premissa fundamental de uma economia de mercado é que a troca voluntária é mutuamente benéfica. Isso coloca as duas pessoas em uma condição melhor.

E não pode haver uma troca voluntária sem que as pessoas saibam o que está disponível. Deste modo, a publicidade é necessária para o comércio humano e é parte de um ecossistema florescente, de trocas mutuamente benéficas e de competição saudável.

Você não poderia ter uma sociedade moderna sem algum tipo e grau de propaganda.

Isso não significa que a quantidade de publicidade – ou o tipo de publicidade – que aceitamos em nossa sociedade seja saudável. Como basicamente em tudo, a diferença entre veneno e remédio está nos detalhes de dosagem e uso.

Houve um tempo, não muito tempo atrás, quando a Segunda Revolução Industrial levou a níveis de produção tão elevados que os economistas teorizaram sobre semanas de trabalho cada vez mais curtas, com cada vez mais tempo gasto em busca de arte e lazer com nossos amigos e familiares.

Logo, passaríamos apenas dez horas por semana trabalhando e o resto desenvolvendo nosso potencial humano.

No entanto, desde então vimos a produtividade disparar (podemos fazer mais coisas com a mesma quantidade de tempo), enquanto as horas trabalhadas permaneceram praticamente estáveis.

O motivo mais simples para isso? Somos viciados em consumo. Em vez de manter a produção constante (e trabalhar cada vez menos), tentamos maximizar o consumo mantendo-nos o mais ocupados possível.

Esse vício de consumo, que não é necessariamente ter, mas adquirir coisas, se manifesta em algumas anomalias culturais realmente estranhas que – se as testemunharmos de uma perspectiva diferente – provavelmente nos parecerão disfuncionais ou até patológicas.

Vou compartilhar um exemplo pessoal: quando estou me sentindo um pouco para baixo, com certeza sentirei prazer ao comprar algo novo.

Não precisa ser muito, pode ser apenas um livro. Pode ser apenas ir a um drive-thru. De qualquer forma, clicar naquele botão ou passar o meu cartão de crédito é uma pequena infusão de ordem e controle em uma vida, que pode parecer caótica e complexa.

É tão pequeno que é quase subliminar, mas cada transação é como um condutor de energia. O benefício não é apenas a comida ou o livro que você compra. É o fato de você demonstrar o poder de compra.

Este consumismo desenfreado não está nos torna objetivamente melhores ou mais felizes.

Isso não me parece a marca registrada de uma cultura saudável, e nem sequer toquei nas grandes quantidades de lixo.

Claro, existe o desperdício literal, tanto de embalagens quanto da substituição de bens de consumo (eletrônicos, roupas, etc.) em um ritmo cada vez mais acelerado.

No entanto, também há o custo de oportunidade. Se você gasta três, quatro ou dez vezes mais em um par de sapatos para obter a marca e o estilo certos, do que gastaria em um par de sapatos igualmente úteis sem uma marca certa, isso também não é desperdício?

Você poderia ter gasto o dinheiro em outra coisa ou, melhor ainda, economizado ou até trabalhado menos.

Este consumismo desenfreado não está nos tornando objetivamente melhores ou mais felizes. É impossível separar consumismo de status, e status é um jogo de soma zero. Para cada vencedor, há um perdedor.

E isso significa que, como um todo, a busca por status pode nunca nos colocar em uma situação melhor. Estamos trabalhando tanto para tentar ganhar um jogo que não melhora o nosso mundo. Por quê?

A publicidade é a causa mais provável. Em algum momento, os anunciantes perceberam que, em vez de tentar persuadir as pessoas diretamente de que determinado produto atenderia uma necessidade específica, se poderia contornar o argumento racional e apelar para desejos e medos subconscientes.

Isso permite coisas como “fidelidade à marca”. Também separa o consumo da necessidade. Você pode ter objetos físicos suficientes, mas terá contentamento, segurança, alegria ou paz suficientes?

O grande efeito colateral é que, quando você compra tudo o que foi persuadido a comprar, o que você realmente espera não é um carro, um sorvete ou um videogame.

O que você realmente procura é a satisfação de um desejo muito mais profundo de pertencer ou segurança ou paz ou contentamento.

Uma vez que nenhum produto pode realmente atender a esses desejos mais profundos, a propaganda simultaneamente estimula o anseio e nos redireciona para longe de caminhos que poderiam potencialmente nos satisfazer.

Somos todos como Dumbledore na caverna, bebendo um veneno que só nos deixa com mais sede.

Um comercial não terá nenhum efeito perceptível, é claro, mas a vida no século 21 é uma vida saturada por essas mensagens.

E se você acha que é ruim o suficiente quando os produtos vendem algo externo, o que dizer de todos os produtos que prometem torná-lo melhor? Mais magro, mais forte, mais bronzeado, etc.

Toda a indignação dos modelos de moda que ultrapassaram a possibilidade biológica com o fotoshop, é apenas uma pequena porção de um ecossistema de publicidade que é calculado para nos deixar insatisfeitos.

Desenvolvi essa teoria de que a publicidade alimenta o consumismo, o que sabota nossa felicidade em nível individual e social, quando eu era adolescente nos anos 90. E não havia rede social naquela época.

Então, voltando ao “Dilema das Redes”, o problema não é que a vida era boa até que vieram as redes sociais e destruíram tudo.

O problema é que já vivíamos em uma sociedade doente e consumista, onde a publicidade inflamava os desejos e afastava qualquer esperança de realização, e então a rede social tornou tudo ainda pior.

Afinal, tudo que as redes sociais fazem já era feito antes.

Feeds de notícias ajustados para mantê-lo rolando a página infinitamente. Estações de rádio que trocam suas fórmulas para colocar anúncios para evitar que você mude de estação.

Programas de TV são escritos em torno de intervalos de publicidade para garantir que você espere a ação continuar. (Assista a qualquer episódio antigo de Law and Order para ver o que quero dizer.)

As redes sociais fazem a mesma coisa, apenas são melhores nisso. (Parcialmente por meio de feeds individualizados e algoritmos de IA, mas também por meio de um trabalho eficaz de terceirização: cada meme que você publica contribui para manter seus amigos e familiares presos.)

Anúncios que ignoram apelos objetivos à qualidade ou função e apelam diretamente à sua identidade pessoal, suas esperanças, seus medos? Novamente, não é novidade.

Anúncios antigos já estavam no caminho de fragmentar a sociedade em “tribos de imagem” que se definiam, pelo menos em parte, em seus padrões de consumo.

A rede social apenas dobrou essa tendência, permitindo que tribos cada vez menores e mais homogêneas se encontrassem e socializassem (e fossem alvos de anunciantes).

Então, a principal discussão que faltou em “O Dilema das Redes” foi a compreensão de que a mídia social não é um novo problema estranho. É um problema antigo que piorou.

Em 2009, durante um Devocional para alunos da BYU, o Élder David A. Bednar falou sobre o uso da tecnologia e nos alertou:

“Ergo hoje a voz apostólica de advertência para a possível influência repressiva, sufocante, anuladora e restritiva que alguns tipos de interações e experiências realizadas no mundo virtual podem ter sobre nossa alma. Essa preocupação não é algo novo: aplica-se igualmente a outros meios de comunicação como a televisão, o cinema e a música. No mundo virtual, porém, esses desafios são ainda mais difundidos e intensos. Rogo que tomem cuidado com a influência entorpecente e espiritualmente destrutiva das tecnologias do ciberespaço que são usadas para produzir alta fidelidade e promover propósitos degradantes e malignos.

Caso o adversário não consiga persuadir-nos a fazer mau uso de nosso corpo físico, uma de suas táticas mais eficazes é induzir-nos — nós que somos espíritos com corpo — a desligar-nos gradual e fisicamente das coisas como realmente são. Em essência, ele incentiva-nos a pensar e agir como se estivéssemos em nosso estado pré-mortal, sem corpo.

Se permitirmos, ele pode utilizar astuciosamente alguns aspectos da tecnologia moderna para atingir seus objetivos.”

Precisamos estar atentos a como estamos usando as redes sociais e como elas nos influenciam.

Soluções

A deficiência em “O Dilema das Redes” é que não foram oferecidas soluções. Esta é uma lacuna estranha porque pelo menos uma solução potencial é bastante óbvia: pare de depender de produtos e serviços apoiados por anúncios.

Se pudéssemos pagar um pequeno e justo valor por mês pela nossa conta do Facebook e essa fosse a única fonte de receita deles (sem anúncios permitidos), muitos dos incentivos perversos relacionados à manipulação do seu feed desapareceriam.

Outra solução seria um controle de privacidade mais rígido. Como mencionei acima, o maior diferenciador entre a rede social e a mídia de transmissão é a individualização.

Li (não me lembro onde) sobre a ideia de coletivos de privacidade: grupos de consumidores poderiam se unir, reter os dados de grupos de rede social e, em seguida, distribuí-los em troca de receita (por que você não deveria receber para os anúncios que assiste?) ou simplesmente se recusar a participar.

Essas soluções têm desvantagens. Parece legal ser pago para assistir anúncios (melhor do que a alternativa, pelo menos) e ter controle sobre seus dados, mas existem algumas realidades econômicas fundamentais a serem consideradas.

Serviços “gratuitos” como Facebook, Gmail e YouTube nunca serão realmente gratuitos. Alguém tem que pagar pelos servidores, eletricidade, largura de banda, desenvolvedores, etc. Se os anunciantes não pagarem, então os consumidores precisarão fazê-lo.

E sim, pagar uma pequena mensalidade para o Twitter (ou qualquer outra rede) mudaria significativamente os incentivos para manipular seu feed, mas não os faria desaparecer.

Eles ainda teriam todos os incentivos para mantê-lo o mais engajado possível, para garantir que você nunca cancele sua assinatura e chame todos os seus amigos para se inscreverem também.

Ainda assim, teria sido bom se “O Dilema das Redes” tivesse discutido possíveis soluções específicas.

Por outro lado, aqui está uma verdade incômoda: pode não haver soluções plausíveis. Não é o tipo de documentário da Netflix que deseja fazer, de qualquer maneira.

Na seção anterior, eu disse “a propaganda alimenta o consumismo”. Acredito que existe uma causa mais profunda, e a publicidade – da maneira como é feita hoje – é apenas um sintoma dessa causa.

Quando você para de tentar persuadir as pessoas a comprarem seu produto diretamente – apelando para a razão delas – e começa a tentar contornar a razão para apelar aos desejos subconscientes, você as está desumanizando de fato.

Você as está tratando como algo a ser manipulado. Como um meio para um fim. Não como pessoa. Não como um fim em si mesmo.

Esse é o lado da oferta: o consumismo é um reflexo da nossa disposição em tolerar tratar uns aos outros como objetos. Nós não amamos o próximo.

Do lado da demanda, quanto mais vazia a sua vida, mais suscetível você se torna a esse tipo de publicidade.

Alguém que realmente tem a sensação de pertencimento em sua vida, não será facilmente manipulado para comprar uma cerveja (ou qualquer outra coisa) ao apelar para essa necessidade. Por que eles fariam isso? A necessidade já está sendo atendida.

Esse é o lado da demanda: o consumismo é um reflexo de quanto significado está faltando em nossas vidas. Não amamos a Deus (ou, para sermos menos religiosos, temos o discernimento de dever e respeito por valores elevados).

Enquanto essas disfunções subjacentes estiverem em vigor, nunca conseguiremos desintoxicar a publicidade por meio de políticas e incentivos inteligentes.

Não há maneira concebível de aplicar razoavelmente uma lei que diz “a publicidade que objetiva os consumidores é ilegal”.

mídias sociais

A difícil realidade é que a rede social não é mais intrinsecamente tóxica do que a propaganda. O que estamos testemunhando são nossas doenças culturais amplificadas e refletidas em nossas tecnologias. Elas não são o problema. Nós somos.

Portanto, a única maneira de desintoxicar nossa publicidade e rede social é cortar o consumismo pela raiz. Não com políticas criativas ou leis e regulamentos rígidos, mas com uma mudança fundamental em nossos valores culturais.

Temos o modelo para tal revolução. A herança mais inovadora da tradição cristã é a crença de que, como filhos de Deus, toda vida humana é individual e intrinsecamente valiosa.

Uma adoção sincera desse princípio tornaria a propaganda manipulativa impensável e intolerável.

O cristianismo – como todas as grandes religiões, mas talvez com uma ênfase particular – também ensina que uma vida valiosa é encontrada apenas no serviço ao próximo, serviço que preencheria o vazio em nossas vidas e nos tornaria dramaticamente menos suscetíveis à manipulação.

Essa não é uma visão idealista de utopia. Não estou falando sobre tornar a sociedade perfeita. Apenas torna-la cada vez melhor. O consumismo não é binário. A doença é um espectro.

Cada passo que déssemos para longe de nosso estado atual e rumo a uma sociedade mais consciente de ideais (verdade, beleza e o sagrado) e mais dedicada ao amor e serviço ao próximo, traria uma redução proporcional na doença da publicidade manipuladora, que hoje resulta em tribalismo, hostilidade e colapso social.

Há uma palavra que define o que estou falando, e a palavra é… arrependimento. O consumismo, a causa subjacente da publicidade tóxica que é o cerne da destruição forjada pelas redes sociais, é a encarnação cultural de nosso orgulho e egoísmo.

Não podemos improvisar uma solução econômica ou legal para um problema fundamentalmente espiritual.

Novamente, cito as palavras do Élder Bednar,

“Peço-lhes que tomem muito cuidado para não ficarem tão imersos e concentrados nos pixels, torpedos, fones de ouvidos, Twitter, redes sociais on-line e usos potencialmente viciantes da mídia e da Internet, a ponto de deixarem de reconhecer a importância de seu corpo físico e de perderem a riqueza da verdadeira comunicação face a face. Tomem cuidado com as representações e informações digitais encontradas nas diversas formas de interação computadorizada que podem exibir toda a gama de capacidades e experiências físicas.”

Precisamos renunciar ao que estamos fazendo de errado e aprender – individual e coletivamente – a fazer melhor.

Fonte: Public Square Magazine

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